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domingo, 20 de junho de 2010

Coerência textual

A construção textual deve ser a construção de um todo compreensível aos olhos do leitor. A coerência textual é o instrumento que o autor vai usar para conseguir encaixar as “peças” do texto e dar um sentido completo a ele.

Cada palavra tem seu sentido individual, quando elas se relacionam elas montam um outro sentido. O mesmo raciocínio vale para as frases, os parágrafos e até os textos. Cada um desses elementos tem um sentido individual e um tipo de relacionamento com os demais. Caso estas relações sejam feitas da maneira correta, obtemos uma mensagem, um conteúdo semântico compreensível.

O texto é escrito com uma intencionalidade, de modo que ele tem uma repercussão sobre o leitor, muitas vezes proposital.

Em uma redação, para que a coerência ocorra, as idéias devem se completar. Uma deve ser a continuação da outra. Caso não ocorra uma concatenação de idéias entre as frases, elas acabarão por se contradizerem ou por quebrarem uma linha de raciocínio. Quando isso acontece, dizemos que houve um quebra de coerência textual.

A coerência é um resultado da não contradição entre as partes do texto e do texto com relação ao mundo. Ela é também auxiliada pela coesão textual, isto é, a compreensão de um texto é melhor capturada com o auxílio de conectivos, preposições, etc.

Vejamos alguns exemplos de falta de coerência textual:

“No verão passado, quando estivemos na capital do Ceará Fortaleza, não pudemos aproveitar a praia, pois o frio era tanto que chegou a nevar”

“Estão derrubando muitas árvores e por isso a floresta consegue sobreviver.”

“Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar”

“Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo”


“Podemos notar claramente que a falta de recursos para a escola pública é um problema no país. O governo prometeu e cumpriu: trouxe várias melhorias na educação e fez com que os alunos que estavam fora da escola voltassem a freqüentá-la. Isso trouxe várias melhoras para o país.”

A falta de coerência em um texto é facilmente detectada por um falante da língua, mas não é tão simples notá-la quando é você quem escreve. A coerência é a correspondência entre as idéias do texto de forma lógica.

Quando o entendimento de determinado texto é comprometido, imediatamente alguém pode afirmar que ele está incoerente. Na maioria das vezes esta pessoa está certa ao fazer esta afirmação, mas não podemos achar que as dificuldades de organização das idéias se resumem à coerência ou a coesão. É certo que elas facilitam bastante esse processo, mas não são suficientes para resolver todos os problemas. O que nos resta é nos atualizarmos constantemente para podermos ter um maior domínio do processo de produção textual.

A sua redação precisa fazer sentido
Alfredina Nery*
Especial para a Página 3 Pedagogia e Comunicação
Para que seu texto seja claro, compreensível e possa transmitir a ideia que você queira passar, é importante que ele tenha duas características: coesão e a coerência. Entenda o que são esses conceitos e saiba como utilizá-los em suas redações.

Deve-se ter em mente que escrever não é apenas colocar palavras no papel. É preciso trabalhar muito para ter um bom texto. Então aí vai uma dica: para começar, pense no fim! Isso mesmo! Qual a finalidade do seu texto? O que você quer com ele? Responda então, para si mesmo, às seguintes questões:

1- Qual a finalidade do texto? Para que ele serve?
2 - Qual o assunto? Sobre o que vou escrever?
3 - Quem vai ler o meu texto?
4 - Qual tipo de texto vou fazer?

Vamos a um exemplo concreto. Imagine que você vai escrever uma carta (ou um e-mail) para um jornal comentando uma notícia sobre alimentos transgênicos. Você deve, então, levar em consideração:


•a finalidade de sua carta (participar do debate, dando sua opinião);

•o que quer comentar (alimentação e transgênicos);

•para quem está escrevendo (os outros leitores do jornal);

•o tipo de texto: a carta ou e-mail.

Depois de ter pensado nisso tudo, você dá sua opinião, usando elementos da carta e escolhendo argumentos que sustentem suas ideias. Assim, para escrever sua carta, você - como autor - precisa elaborar um texto "coerente", ou seja, que faça sentido. O texto deve ser coerente não só com suas ideias, mas também coerente em relação ao seu objetivo, ao leitor que pretende atingir, ao gênero textual que está desenvolvendo.

Vamos pensar um pouco mais a esse respeito...



Coesão e coerência
Imagine a seguinte situação: na grande decisão de um campeonato, o técnico de um dos times declarou aos jornalistas:

"Vamos respeitar o adversário, mas, agora, nosso time está coeso".


Agora, numa outra situação, a namorada diz para o namorado:


"Não adianta. Não vou mais perdoar você. Quero que tenha atitudes coerentes."


Na primeira situação, o técnico enfatizou o fato de seu time estar coeso, como uma qualidade importante para ganharem o jogo. "Coeso" significa "unido", "intimamente ligado", "harmônico".


Na segunda situação, a namorada cobra atitudes coerentes do namorado. "Coerência" significa "harmonia", "conexão", "lógica".


Sem coesão e coerência, sua redação não existe! Quando muito, há um amontoado desconexo de palavras colocadas lado a lado. Vamos a mais uma reflexão? Desta vez, leia o trecho de uma crônica de Millôr Fernandes.



“As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica” - Richard Gehman

“Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte."
“Junto com as outras?"
“Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.";
“Sim senhora. Olha, o homem está aí."
“Aquele de quando choveu?"
“Não. O que a senhora foi lá e falou com ele no domingo."
“Que é que você disse a ele?"
“Eu disse para ele continuar."
“Ele já começou?"
“Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse."
(...)



(Millôr Fernandes. "Trinta anos de mim mesmo". São Paulo: Abril Cultural, 1973)


Veja como o humorista faz sua sátira, a partir de duas ideias básicas: "as mulheres falam demais" e "somente as mulheres se entendem".


Comece a analisar pelo título a ironia do autor: "A vaguidão específica" (como algo pode ser vago e específico, ao mesmo tempo? Só as mulheres, diria Millôr e os que pensam como ele...). Para confirmar suas ideias, ele busca uma "autoridade" para fazer a citação: Richard Gehman (quem seria? Um estrangeiro, pelo nome. Novamente, o humorista brinca com uma ideia pronta: sendo "alguém de fora" deve ter muito a nos ensinar...).


Quem participa da história narrada? Duas mulheres. São elas patroa e empregada? Mãe e filha? Não sabemos. Qual é o assunto de que falam as duas mulheres? Nós, leitores, não sabemos, mas as duas personagens sabem, não é mesmo?


A que se referem as palavras e trechos: "isso", "outras", "alguém", "qualquer coisa", "lugar do outro dia", "o homem", "Aquele", "o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo", "continuar", "começou"? Os leitores não sabem, mas as mulheres sim e como as duas sabem do que estão falando, a "costura" do texto vai sendo feito de forma coerente e coesa.


Você viu que Millôr Fernandes, intencionalmente, quis brincar com um preconceito social a respeito da mulher e seu jeito de falar, considerado excessivo. Assim, para entendermos o texto, como coerente e coeso, é preciso levar em conta o fato do autor ser um humorista e seu texto trazer essa marca da "surpresa" ou do "olhar sobre outro ângulo" - como numa piada.



* Alfredina Nery é professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.

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