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domingo, 20 de junho de 2010

O que é uma narração?

Características:
Situa seres e objetos no tempo (história).

Estrutura:
- Introdução: Apresenta as personagens, localizando-as no tempo e no espaço.
- Desenvolvimento: Através das ações das personagens, constrói-se a trama e o suspense que culmina no clímax.
- Conclusão: Existem várias maneiras de se concluir uma narração. Esclarecer a trama é apenas uma delas.

Recursos:
Verbos de ação, discursos direto, indireto e indireto livre.

O que se pede:
Imaginação para compor urna história cativante que entretenha o leitor, provocando expectativa. Pode ser romântica, dramática ou humorística.

A narrativa deve tentar elucidar os aconteCimt0s, respondendo às seguintes perguntas essenciais:

O QUÊ? - o(s) fato(s) que determina(n) a história;
QUEM? - a personagem ou personagens;
COMO? - o enredo, o modo como se tecem os fatos;
ONDE? - o lugar ou lugares da ocorrência
QUANDO? - o momento ou momentos em que se passam os fatos;
POR QUÊ? - a causa do acontecimento.

Observe como se aplicam no texto de Manuel Bandeira esses elementos:

Tragédia brasileira
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...

Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência , matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontra-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

Manuel Bandeira

•O quê? Romance conturbado, que resulta em crime passional.
•Quem? Misael e Maria Elvira.
•Como? O envolvimento inconseqüente de um homem de 63 anos com uma prostituta.
•Onde? Lapa, Estácio, Rocha, Catete e vários outros lugares.
•Quando? Duração do relacionamento: três anos.
•Por quê? Promiscuidade de Maria Elvira.
Quanto à estruturação narrativa convencional, acompanhe a seqüência de ações que compõem o enredo:

•Exposição: a união de Misael, 63 anos, funcionário público, a Maria Elvira, prostituta;
•Complicação: a infidelidade de Maria Elvira obriga Misael a buscar nova moradia para o casal;
•Clímax: as sucessivas mudanças de residência, provocadas pelo comportamento desregrado de Maria Elvira, acarretam o descontrole emocional de Misael;
•Desfecho: a polícia encontra Maria Elvira assassinada com seis tiros.

SEGUEM ALGUNS MODELOS
O dia que virou um dia
Os primeiros raios de sol, brandos como um leve toque, anunciam um novo dia de uma preguiçosa segunda-feira. Maria acorda, ingere algum pão e café, despede-se da família e se põe a caminhar em direção ao ponto de ônibus. Não tão longe dela, José executa as mesmas ações, porém, não se sabe se desperdiçou os mesmos momentos de adeus.

Maria cumpre mais uma jornada de trabalho e, cansada, roga a volta a casa. Entra então, em um lotação, cujos passageiros a rotina á a fez conhecer. José, bandido inveterado, passa o mesmo dia a caminhar, tramar e agir. Todavia, finda-se a data para ele também e, não estando satisfeito com as finanças adquiridas, envolve-se em dantescos pensamentos.

Vem lá o transporte com Maria. O mesmo é avistado pelo marginal, que logo conclui seu plano iminente de execução. E o faz. O aceno com a mão indica ao motorista que pare o veículo e o deixe entrar. As vistas de Maria mudam imediatamente de direção e cruzam-se com as de José. Este segue, como quem mede os passos, ao encontro daquela. Fita-lhe mais uma vez os olhos e estende-lhe os braços. Aquelas magras mãos tocam a moça e, brutalmente, puxam-na para o mais perto de si: tem uma refém.

José anunciou o assalto e obrigou o condutor a parar o cano. Endiabrado, mostra a sua arma e faz com que Maria a sinta na nuca. O tumulto chama, com brevidade, a atenção do povo e, consequentemente a da polícia. E nesta hora que começam algumas negociações. Com prontidão chega a imprensa, que transforma José em o José. bem como Maria em a Maria.

Passadas já muitas horas, o bandido põe em prática um novo plano: tentar sair do ônibus com a sua refém. Ouve-se um tiro, que atinge Maria. Vendo que iria ser baleado, José dispara mais três tiros de sua arma, que ferem mortalmente as costas da moça. O criminoso é dominado e posto na viatura, onde sorrateiramente morre. A defunta vira manchete, heroína. Passa-se uma semana e aquela foi apenas mais uma segunda-feira em uma grande metrópole.

Diógenes D’arce C. de Lima

Além do espelho, lembranças
Um dia, quando encerrava meu trabalho, fixei a atenção em um simples objeto dc minha sala. Caminhei, paulatinamente, ao seu encontro e, à medida que me aproximava, sentia meu ego explodir em sensações indescritíveis.

Ali, diante dele, parei. Meu reflexo testemunhava as marcas do passado e trazia, à tona, as lembranças da infância e da adolescência. As imagens, agora, misturavam-se, comprometendo minha lucidez. Senti meu corpo flutuar e minha visão apagar-se, de forma que eu me concentrava em recordações, apenas.

Assim, momentos depois, revia meus irmãos e vizinhos correndo em volta da mesa, mamãe fazendo o jantar, papai lendo o jornal, os cães brincando no jardim e, também, meus amigos de colégio, antigos casos amorosos.

Recuperei o bom senso, por um instante, mas não durou mais que isso, pois, novamente, brotam outros pensamentos: o nascimento dos filhos e a ascensão profissional.

Minutos depois, tudo acabara. Diante de mim havia só um espelho, cujo reflexo já não era de um cenário fantasioso de minha mente.

Luana Stephanie de Medeiros

Uma lição de vida
Lembro-me de uma manhã em que descobri um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei algum tempo, mas estava demorando muito e eu tinha pressa.

Irritado e impaciente, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu hálito. E o milagre começou a acontecer diante de mim num ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu, arrastando-se. Nunca hei de esquecer o horror que senti: suas asas ainda não estavam abertas e todo o seu corpinho tremia, no esforço para desdobrá-las.

Curvado por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito. Em vão. Era necessária urna paciente manutenção e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigava a borboleta a se mostrar, antes do tempo, toda amarrotada. Ela se agitou desesperada e, alguns segundos depois, morreu na palma de minha mão.

Acho que aquele pequeno cadáver é o peso maior que tenho na consciência. Hoje, entendo bem isso: é um pecado mortal forçar as grandes leis.

Não devemos nos apressar, nem ficar impacientes, mas seguir confiantes o ritmo eterno.

Nikos Kazantzakis

O engano
Um estudante, em viagem ao interior, ao passar por uma loja, entrou e comprou um presente para sua namorada. Escolheu um lindo par de luvas. Depois pediu para embrulhar Na hora de embrulhar, a moça cometeu uni engano, trocando o par de luvas por uma calcinha. O estudante, não tomando conhecimento, mandou o embrulho e a seguinte carta:

Vitória, 5 de maio de 1976.

Querida, sabendo que no próximo dia 12 é dia do seu aniversário, resolvi mandar-lhe um presente; sei que irá usar, pois todo o tempo em que estivemos juntos, nunca a vi usando. Não sei se você vai gostar da cor e do modelo, mas a moça da loja experimentou e ficou boa.

É um pouco larga na frente, mas ela disse que era para a mão entrar melhor e os dedos moverem-se mais á vontade. É bom que, depois de usá-la, vire-a ao avesso e ponha um pouco de talco para evitar o mau cheiro. Espero que goste, pois vai cobrir aquilo que eu irei pedir uni dia.

Aqui termino, mandando um beijo bem profundo naquilo que o presente irá cobrir

A narração é um texto dinâmico, que contém vários fatores de dependência que são extremamente importantes para a boa estruturação do texto. Narrar é contar um fato, e como todo fato ocorre em determinado tempo, em toda narração há sempre um começo um meio e um fim. São requisitos básicos para que a narração esteja completa.

Sendo assim, começaremos por expor os elementos que formam a estrutura da narrativa:

TEMPO: O intervalo de tempo em que o(s) fato(s) ocorre(m). Pode ser um tempo cronológico, ou seja, um tempo especificado durante o texto, ou um tempo psicológico, onde você sabe que existe um intervalo em que as ações ocorreram, mas não se consegue distingui-lo.

ESPAÇO: O espaço é imprescindível, e deve ser esclarecido logo no início da narrativa, pois assim o leitor poderá localizar a ação e imaginá-la com maior facilidade.

ENREDO: É o fato em si. Aquilo que ocorreu e que está sendo narrado. Deve ter um começo, um meio e um fim.

PERSONAGENS: São os indivíduos que participaram do acontecimento e que estão sendo citados pelo narrador. Há sempre um núcleo principal da narrativa que gira em torno de um ou dois personagens, chamados de personagens centrais ou principais (protagonistas).

NARRADOR: É quem conta o fato. Pode ser em primeira pessoa, o qual por participar da história é chamado narrador-personagem, ou em terceira pessoa, o qual não participa dos fatos, e é denominado narrador-observador.

E alguns elementos que ajudam na construção do enredo:

INTRODUÇÃO: Na introdução devem conter informações já citadas acima, como o tempo, o espaço, o enredo e as personagens.

TRAMA: Nessa fase você vai relatar o fato propriamente dito, acrescentando somente os detalhes relevantes para a boa compreensão da narrativa. A montagem desses fatos deve levar a um mistério, que se desvendará no clímax.

CLÍMAX: O clímax é o momento chave da narrativa, deve ser um trecho dinâmico e emocionante, onde os fatos se encaixam para chegar ao desenlace.

DESENLACE: O desenlace é a conclusão da narração, onde tudo que ficou pendente durante o desenvolvimento do texto é explicado, e o “quebra-cabeça”, que deve ser a história, é montado.

Para que no seu texto estejam presentes esses elementos, é necessário que na organização do texto você faça alguns questionamentos: O quê aconteceu (enredo), quando aconteceu? (tempo), onde aconteceu? (espaço), com quem aconteceu? (personagens), como aconteceu? (trama, clímax, desenlace).

Após fazer essas perguntas e respondê-las, pode-se iniciar a redação da narrativa, onde são incluídos todos esses itens explicados acima. Para uma redação escolar o melhor é que se distribuam as informações dessa forma:

Introdução: Com quem aconteceu? Quando aconteceu? Onde aconteceu?

Desenvolvimento: O que aconteceu? Como aconteceu? Por que aconteceu?

Conclusão: Qual a conseqüência desse acontecimento?

Se essas dicas forem seguidas com certeza a narração estará completa e não faltará nenhuma informação para que se possa entender os fatos.

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